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Autores:ssssssPaulo Cesar Naoum
Flávio Augusto Naoum
Paulo Francisco Naoum
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Introdução
As técnicas utilizadas para avaliar amostras
de sangue encaminhadas ao laboratório com suspeitas de doença
falciforme incluem testes que podem ser subdivididos em quatro grupos:
a) confirmatórios da presença de Hb S nos
eritrócitos: teste de falcização ou
teste de solubilidade; b) determinantes de genótipos
(AS, SS, SC, etc.): eletroforeses de hemoglobinas em meios
alcalino e ácido, isoeletrofocalização, dosagem
de Hb Fetal, e cromatografia líquida de alta pressão
(HPLC); c) determinantes de haplótipos por
meio de técnicas de biologia molecular; d) monitoração:
hemograma, contagem de reticulócitos, morfologia eritrocitária,
dosagens de: ferritina, bilirrubina, ácido úrico,
fosfatase alcalina, desidrogenase láctica (LDH) e metaemoglobina,
e pesquisas intracelulares de corpos de Heinz, Hb H e Hb Fetal.
Cada grupo de testes tem sua importância
na informação de dados para fundamentar com segurança
o diagnóstico completo da doença falciforme. Entretanto,
para dimensionar sua importância no conjunto de informações,
comentaremos cada um dos testes apresentados.
Teste de falcização:
é um teste de avaliação qualitativa que determina
a presença ou ausência de Hb S nos eritrócitos.
Seu princípio se baseia na indução da falcização
por meio da desoxigenação da hemoglobina por drogas
redutoras num microambiente formado no espaço entre lâmina
e lamínula. Vários fatores interferem na sensibilidade
e reprodutibilidade do teste, entre os quais se destacam a proporção
entre os volumes de sangue e da droga redutora, falha na vedação
do microambiente, e tempo de reação. O teste de falcização
é o menos indicado devido ao baixo grau de resolução,
pois quando positivo não diferencia o estado de associação
genética (genótipo) da Hb S (Hb SS, Hb SF, Hb SC,
Hb AS, Hb SD). Além disso, há muitos casos de "falso
negativo", ou seja, eritrócitos com Hb S que submetidos
ao teste de falcização não falcizam.
Teste de solubilidade: esse teste
é fundamentado no maior grau de insolubilidade da Hb S em
comparação com a Hb A, em solução hipertônica
contendo potente droga redutora (ditionito de sódio). Após
misturar o sangue do paciente (suspeito de doença falciforme)
com a solução hipertônica redutora, pode ocorrer
ou não a turvação da mistura. A turvação
indica insolubilidade da Hb S, enquanto que a transparência
da mistura evidencia a ausência da Hb S. O teste tem baixa
reprodutibilidade, podendo permanecer transparente mesmo na presença
de Hb S. Também é um teste qualitativo, ou seja, a
turvação ou insolubilidade da mistura não indica
o tipo de associação da Hb S.
Eletroforese alcalina de hemoglobina:
a eletroforese alcalina é assim denominada devido ao fato
do tampão utilizado para esse fim ter pH variável
entre 8 e 9. Nessa faixa de pH a mutação que deu origem
à Hb S ( b 6 Glu ®
Val) promoveu uma mudança de carga elétrica da molécula
de Hb S, tornando-a menos negativa em relação à
Hb A. Assim, quando amostras de sangue com diferentes genótipos
são submetidas à eletroforese, a Hb S se move eletricamente
de forma mais lenta que a Hb A (ver figura 5.5, capítulo
5 - Hemoglobinopatias). Há dois tipos de eletroforese alcalina
de hemoglobina que são usados com maior frequência
em laboratórios: o acetato de celulose e a agarose. Os dois
testes apresentam excelentes padrões de qualidade técnica,
permitindo a qualificação dos principais genótipos
de doenças falciformes (figura 6.42), entretanto, como se
pode ver pela figura 5.5 do capítulo 5 (Hemoglobinopatias)
e da relação de hemoglobinas variantes que migram
na mesma posição da Hb S (tabela 5.3, capítulo
5 de Hemoglobinopatias), é necessário um meio de comprovação
de que a hemoglobina variante em questão seja realmente a
Hb S. O melhor meio para comprovar é a eletroforese ácida
de hemoglobinas. |
Figura 6.42 - Eletroforese alcalina de hemoglobinas
em gel de agarose. Diferenciação da mobilidade eletroforética
dos genótipos SC, SF e AS. Os traços de Hb A nos genótipos
SC e SF se devem à sangue transfundido em ambos pacientes que
cederam as amostras de sangue para análise. |
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Eletroforese ácida de hemoglobina:
essa eletroforese é sempre realizada em gel de agarose tamponada
em solução de citrato ou fosfato com pH variável
entre 5 e 6, por isso é também conhecida por agarose
ácida. Embora o princípio básico seja
a movimentação da molécula de hemoglobina induzida
por sua carga elétrica (ou ponto isoelétrico), na
realidade um outro fator importante interfere na mobilidade elétrica
– a eletroendosmose. A eletroendosmose é um fenômeno
físico-químico que se deve à interação
elétrica entre as proteínas da agarose com as diferentes
moléculas de hemoglobinas. É por essa razão
que a Hb Fetal se move com maior rapidez que a Hb A na eletroforese
ácida (figura 6.43), uma vez que na eletroforese alcalina
a Hb Fetal é mais lenta que a Hb A. Mas o grande mérito
da eletroforese ácida é diferenciar a Hb S das outras
22 principais hemoglobinas variantes que migram na mesma posição
quando submetidas à eletroforese alcalina. A tabela 5.3 (capítulo
5 - Hemoglobinopatias) lista essas hemoglobinas variantes em relação
à suas mobilidades na eletroforese em agarose ácida.
Entre essas 22 hemoglobinas variantes que tem a mesma mobilidade
da Hb S em eletroforese alcalina, a Hb D Los Angeles é a
mais freqüente em nossa população. Assim, é
comum o uso da expressão "diferenciar a Hb S da Hb D".
Dessa forma, a aplicação conjunta das eletroforeses
alcalina e ácida de hemoglobinas tem importante função
no estabelecimento dos diferentes genótipos de hemoglobinas,
conforme mostra a figura 5.5 do capítulo 5.
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Figura 6.43 – Eletroforese ácida
de hemoglobinas em gel de agarose. (1) Hb ASF em sangue de recém-nascido;
(2) Hb AS; (3) Hb AA. Devido ao processo físico-químico
de eletroendosmose a Hb Fetal migra com maior rapidez que a Hb A.
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Isoeletrofocalização:
é também conhecida por eletroforese de focalização
isoelétrica. Nesse tipo de eletroforese as proteínas
são fracionadas de acordo com o seu pI ao longo de um gradiente
de pH variável entre 5 e 14 que se forma durante a composição
do gel. Este gradiente é estabelecido por um conjunto de
anfólitos carregados isoeletricamente que permite identificar
cerca de 80 tipos diferentes de hemoglobinas variantes. A IEF apresenta
algumas vantagens sobre outros procedimentos eletroforéticos
e cromatográficos. As vantagens em relação
às eletroforeses se devem ao fato das excelentes resoluções
obtidas para separar hemoglobinas variantes cujo pI difere entre
0,02 a 0,001. As vantagens sobre os procedimentos cromatográficos
se revelam pela quantidade de amostras requeridas – 10 a 50m
l na IEF, enquanto na cromatografia líquida de alta
pressão (ou HPLC) são necessários 200 a 300m
l, e principalmente por permitir a análise de várias
amostras por vez (20 a 100 amostras). São essas razões
que influenciaram o uso IEF no "screening" para Hb S em
sangue de recém-nascidos. O fracionamento das hemoglobinas
A, F, S, D e C por IEF tem alto nível de resolução,
permitindo inclusive a diferenciação entre as Hb S
e Hb D (figura 6.44). Devido ao alto custo operacional, seu uso
tem sido restrito à pesquisa laboratorial de frações
variantes, e em "screening" de hemoglobinas – onde
o elevado número de análises por eletroforese oferece
uma relação custo-benefício compensadora.
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Figura 6.44 – Eletroforese de focalização
isoelétrica (isoeletrofocalização) em gel de
agarose. (1) "pool" de hemoglobinas A, F, S e C. (2) Hb
AD. Por meio da isoeletrofocalização é possível
obter fracionamentos de hemoglobinas com excelente nitidez, além
de diferenciar as mobilidades das hemoglobinas S e D. |
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Dosagem de Hb Fetal: a determinação
da concentração de Hb Fetal é fundamental em
duas situações específicas: anemia falciforme
e Hb S/talassemia beta, conforme mostra a tabela 6.1 (Introdução).
Há uma relação direta entre concentração
de Hb Fetal associada à Hb S, e o nível de hemoglobina
total (g/dl) e o hematócrito. Da mesma forma, a elevação
da concentração de Hb Fetal nos diferentes haplótipos
de Hb S reduz a intensidade da gravidade clínica (tabela
6.3 da Introdução). A concentração de
Hb Fetal é usualmente determinada por meio do teste bioquímico
da resistência alcalina desta hemoglobina. Entretanto, há
outras formas de avaliação quantitativa da Hb Fetal
por metodologia imunológica e por densitometria do fracionamento
obtido na eletroforese ácida de hemoglobina (figura 6.43).
A metodologia imunológica tem boa sensibilidade e reprodutibilidade,
porém o seu custo é alto. A densitometria da Hb Fetal
dificilmente apresenta resultado coincidente com o obtido pela determinação
bioquímica da resistência alcalina, isto se explica
devido à densitometria ser um método essencialmente
físico, enquanto a resistência alcalina é químico.
A opção por um dos três métodos requer
a padronização e obtenção dos valores
de normalidade (média e desvio padrão).
Cromatografia líquida de alta pressão
(HPLC): é um processo de troca catiônica onde
moléculas com cargas positivas são adsorvidas em uma
fase estacionária da coluna cromatográfica, seguida
por suas eluições induzidas pela passagem de um líquido
(fase móvel) com altas concentrações de cátions.
O eluato é detectado opticamente e quantificado computando
a área do gráfico correspondente à fração
eluída. A automação da HPLC promove esse processo
com grande eficiência e precisão, permitindo a quantificação
de hemoglobinas A, A2 e Fetal, bem como de hemoglobinas
variantes. Assim, as hemoglobinas A, A2, Fetal, S, C,
O Arábia, D Los Angeles, e G Filadélfia podem ser
separadas uma das outras. Entretanto, seu uso deve ser sempre monitorado
por eletroforeses alcalina e ácida, uma vez que há
sobreposição de frações, como são
os casos da Hb Lepore e Hb Korle-Bu que sobrepõe à
Hb A2. Na HPLC a Hb A2 pode estar falsamente
elevada na presença de Hb S.
Biologia molecular: o agrupamento
de genes da globina beta no cromossomo 11 humano é uma das
regiões polimórficas mais bem estudada por técnicas
de biologia molecular. A utilização de diferentes
enzimas de restrição permite a ruptura de ligações
entre determinadas seqüências de bases nitrogenadas,
fato que determinou a qualificação dos cinco haplótipos
(figura 6.9). Muitos estudos tem sido realizados com o objetivo
de relacionar esses haplótipos com a diversidade clínica
que se verifica entre pacientes com anemia falciforme (tabela 6.3).
Por outro lado, a biologia molecular tem sido usada para a identificação
pré-natal de anemia falciforme por meio da enzima Mst II
que fragmenta o DNA da globina b S
diferentemente da fragmentação do DNA da globina b
A. Esses fragmentos submetidos à eletroforese
de DNA em gel de agarose permite a separação do fragmento
do DNA da globina b S (com
1,35 Kb) do DNA da globina b A
(com 1,15 Kb). Uma outra aplicação da biologia molecular
é usada na diferenciação da Hb S de outras
hemoglobinas variantes que migram eletroforeticamente em posição
similar à da Hb S, como são os casos da Hb D Los Angeles
e Hb Korle-Bu. Nesses casos, o DNA extraído é amplificado
e submetido a ação da digestão enzimática
com diferentes enzimas de restrição. O material resultante
da digestão é submetido à eletroforese em gel
de agarose ou poliacrilamida que permite, após a revelação
das bandas, a identificação da Hb variante.
O hemograma: é uma análise
que contempla diversas provas efetuadas, com a finalidade de avaliar
quantitativa e qualitativamente os componentes celulares do sangue.
Os itens avaliados incluem: contagem de eritrócitos, concentração
da hemoglobina total, hematócrito, índices hematimétricos,
leucócitos totais, contagem diferencial de leucócitos,
plaquetas, e análises morfológicas de eritrócitos,
leucócitos e plaquetas. A importância do hemograma
nas doenças das células falciformes se destaca sob
dois aspectos: no monitoramento hematológico do paciente
e no auxílio do diagnóstico diferencial entre a anemia
falciforme e a interação Hb S/talassemia. Assim, os
índices VCM (volume corpuscular médio) e HCM (hemoglobina
corpuscular média) tem grande importância na diferenciação
entre Hb SS e Hb S/talassemia, conforme mostra a tabela 6.17.
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Tabela 6.17
– Diferenciação dos principais genótipos
de Hb S relacionados aos valores de hemoglobina (Hb g/dl), volume
corpuscular médio (VCM), reticulócitos e Hb Fetal.
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Doença |
Genótipo |
Hb (g/dl) |
VCM (fl) |
Reticulócitos
(%) |
Hb Fetal (%) |
Anemia Falciforme |
b
S / b S
a a / a a |
5 – 9 |
85 – 110 |
10 – 20 |
2 – 10 |
Hb S/tal a * |
b S
/ b S a
- / a - |
6 – 10 |
70 – 80 |
5 – 10 |
2 – 20 |
Hb SC |
b
S / b C
a a / a a |
9 – 13 |
75 – 85 |
5 – 10 |
1 – 5 |
Hb S/tal b 0 |
b S
/ b 0 a
a / a a |
7 – 10 |
60 – 70 |
5 – 15 |
5 – 20 |
Hb S/tal b
+ ** |
b
S / b +
a a / a a |
9 – 11 |
60 – 70 |
5 – 10 |
5 - 10 |
* Deleção de dois genes alfa
** Em eletroforese identificam-se as frações de Hb
A, F e S; a Hb S tem concentração maior que a Hb A.
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Morfologia eritrocitária:
é quase sempre muito diversificada pela presença de
células falciformes, em alvo, dacriócitos, esquisócitos,
eritroblastos, policromasia, corpos de Howell-Jolly, pontilhados
basófilos, micrócitos e macrócitos, principalmente.
Contagem de reticulócitos:
a reticulocitose é comum nas doenças das células
falciformes (tabela 6.17), e tem importância como marcador
biológico do grau da eritropoiese. A pesquisa de corpos de
Heinz na lâmina em que se avalia a contagem de reticulócito
fornece subjetivamente o grau de oxidação da Hb S.
Da mesma forma, utilizando a técnica da contagem de reticulócitos,
é possível pesquisar a presença de precipitados
intra-eritrocitários de Hb H para estabelecer a interação
do genótipo de Hb S com talassemia alfa.
Ferritina: é a mais importante
proteína de reserva de ferro. É encontrada em todas
as células, especialmente naquelas envolvidas na síntese
de compostos férricos, no metabolismo e na reserva de ferro.
A dosagem de ferritina é o mais fiel indicador da quantidade
de ferro armazenada no organismo. Na carência de ferro, a
ferritina diminui antes das alterações dos níveis
de ferro sérico e das alterações da morfologia
eritrocitária. Sua concentração está
elevada em politransfundidos, nas anemias hemolíticas e megaloblásticas,
e nas lesões hepáticas. Por fazer parte do grupo de
proteínas da fase aguda, a ferritina se eleva em respostas
às infecções, traumatismos e inflamações
agudas. Muitos doentes falciformes são submetidos a constante
reposição de concentrado de eritrócitos, fato
que caracteriza o "regime" de politransfusão. Os
eritrócitos transfundidos aumentam a sobrecarga de ferro
e, assim, a dosagem de ferritina se apresenta como sensível
marcador dessa situação.
Bilirrubina: é o principal
produto do metabolismo do grupo heme. Cerca de 70% da bilirrubina
são provenientes da destruição de eritrócitos
velhos, 15% provém de fontes hepáticas, e 15% se deve
à destruição de eritrócitos defeituosos
na medula óssea. Assim, no caso das doenças das células
falciformes a excessiva quantidade de eritrócitos defeituosos
induz sua destruição precoce e, consequentemente,
eleva a concentração de bilirrubina indireta para
valores acima de 5mg/dl.
Ácido úrico: é
o maior produto do catabolismo das purinas. Diversos fatores como
dieta, predisposição genética, sexo, idade,
peso, medicamentos, uso de álcool, e associação
com outras patologias como diabetes mellitus e distúrbios
lipídicos podem alterar os valores séricos e desencadear
o desequilíbrio entre a absorção e a excreção
de ácido úrico. A hiperuricemia ocorre quando a concentração
de ácido úrico ultrapassa os valores de referência.
Entre as várias causas que aumenta o ácido úrico
no sangue destacam-se as anemias hemolíticas devido à
reutilização de ácidos nucléicos provenientes
da degradação da globina motivada pela precoce destruição
dos eritrócitos, fato comum nas doenças das células
falciformes. Portanto, nesses casos, a elevação do
nível de ácido úrico é conseqüência
da hemólise.
Fosfatase alcalina: é
uma enzima presente em praticamente todos os tecidos do organismo,
e em especial nas membranas das células dos túbulos
renais, ossos, placenta, trato intestinal e fígado. Assim,
a fosfatase alcalina encontrada no soro é resultante da presença
de diferentes isoenzimas provenientes de diferentes órgãos,
porém com predomínio das frações ósseas
e hepáticas. Na prática clínica, a grande utilidade
está na investigação de doenças hepatobiliares
e doenças ósseas que cursam com aumento da atividade
osteoblástica. Na anemia falciforme é freqüente
a ocorrência de cálculos biliares (colelitíase)
devido à bilirrubinemia desencadeada pelas crises de hemólise,
situações que elevam a concentração
sérica de fosfatase alcalina.
Desidrogenase láctica (LDH):
é uma enzima intracelular que induz a oxidação
reversa do lactato em piruvato. Está amplamente distribuída
em todas as células do organismo, concentrando-se especialmente
no miocárdio, rim, fígado, eritrócitos e músculos.
A elevação da LDH está relacionada em todas
as situações em que ocorre grande destruição
celular, como são os casos das anemias hemolíticas
e megaloblástica, insuficiência cardíaca congestiva,
doenças musculares, lesões hepáticas, e neoplasias,
entre outros. Nas doenças falciformes associadas à
crises de hemólises, a LDH apresenta-se com concentrações
elevadas, fato que a caracteriza como sensível marcador biológico
da destruição de eritrócitos.
Metaemoglobina: conforme foi
apresentado no capítulo 5, a constante oxidação
da hemoglobina eleva o nível de metaemoglobina. Quando a
concentração da Hb S é maior que 50% a metaemoglobinemia
desencadeia a degradação da Hb S com formação
de corpos de Heinz. Todo esse processo provoca lesões na
estrutura da membrana do eritrócito falciforme, induzindo
sua destruição pelos macrófagos. Assim, a dosagem
de metaemoglobina nas doenças das células falciformes
se apresenta como importante indicador biológico relacionado
à oxidação da Hb S.
Pesquisas intracelulares de corpos de
Heinz, Hb H e Hb Fetal: os corpos de Heinz são precipitados
de globinas a ou b
que se aderem à membrana do eritrócito sob a forma
de estruturas circulares. Quando a proporção de eritrócitos
com corpos de Heinz é maior que 1 para 1000 eritrócitos
normais é indicativo de processos oxidativos da hemoglobina.
Nas doenças das células falciformes é comum
a presença elevada de corpos de Heinz em proporções
variáveis entre 1:50 a 1:200. A pesquisa de Hb H intraeritrocitária
é necessária quando se suspeita de talassemia alfa.
A talassemia alfa de um gene afetado é comum na população
brasileira, com prevalência entre 15 a 25%, e sua identificação
se faz pela presença de traços de Hb H na eletroforese
alcalina de hemoglobina em acetato de celulose e também por
meio da precipitação intra-eritrocitária de
Hb H com corante redox (azul de crezil brilhante ou violeta de metil).
Por ser uma lesão em apenas um gene alfa, dos quatro existentes,
é muito difícil estar associada com alterações
hematológicas e clínicas. Por outro lado, quando a
lesão envolve dois genes alfa é comum a anemia microcítica
e hipocrômica de grau leve. A prevalência da alteração
de dois genes alfa afetados na população brasileira
é variável em 3 a 5%. Assim, a interação
entre anemia falciforme (Hb SS) e talassemia alfa com um ou dois
genes alfa afetados é comum em nossa população.
As alterações hematológicas na interação
de Hb SS/talassemia alfa são menores quando comparadas com
a anemia falciforme "pura" (Hb SS) conforme mostra a tabela
6.17. Tecnicamente as pesquisas intracelulares de corpos de Heinz
e de Hb H obedecem o mesmo procedimento de incubação
de sangue total com azul de crezil brilhante, cujas diferenças
morfológicas podem ser apreciadas nas figuras 6.45 e 6.46.
A pesquisa intracelular de Hb Fetal se faz por
meio da técnica de eluição ácida no
esfregaço de sangue total, em que Hb A é retirada
(ou eluída) dos eritrócitos, enquanto que a Hb Fetal
permanece dentro da célula. Após contra-coloração
com eritrosina, ou até mesmo com Giemsa, é possível
determinar a forma de disposição dos eritrócitos
contendo Hb Fetal. Quando não há Hb Fetal os eritrócitos
apresentam-se desprovidos de hemoglobina (figura 6.47). Quando a
distribuição é heterogênea, ou seja,
presença concomitante de eritrócitos corados (indicativo
de Hb Fetal) e vazios (indicativo de Hb A eluída), é
sugestivo de talassemia menor (figura 6.48) ou maior (figura 6.49).
Quando todos os eritrócitos apresentam-se corados homogeneamente
se trata de persistência hereditária de Hb Fetal (PHHF).
Há dois grupos específicos de genótipos de
Hb S associados com Hb Fetal , quais sejam: Hb S / talassemia beta
e Hb SS / PHHF. No primeiro grupo a associação é
interativa entre o gene b S
e o gene b Tal, com anemia
microcítica e hipocrômica e anemia variável
entre grave (Hb S/tal b 0)
a moderada (Hb S/tal b +),
conforme mostram a tabela 6.1 e tabela 6.17. No segundo grupo situa-se
a associação entre a anemia falciforme com PHHF, onde
a Hb Fetal elevada inibe o processo de polimerização
da Hb S fato que favorece o desempenho fisiológico da oxigenação,
diminuindo a intensidade da anemia, bem como das manifestações
clínicas (ver tabela 6.1).
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Figura 6.45 – Precipitados intra-eritrocitários
de corpos de Heinz em pessoa com anemia falciforme. |
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Figura 6.46 – Precipitados de Hb H em
eritrócitos de pessoa com talassemia alfa. |
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Figura 6.47 – Teste negativo para Hb Fetal
intraeritrocitária. Os eritrócitos normais (Hb AA) tiveram
suas moléculas de hemoglobinas eluídas após serem
submetidos à técnica de eluição ácida.
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Figura 6.48 – Distribuição
heterogênea de Hb Fetal intraeritrocitária na talassemia
beta maior. Os poucos eritrócitos corados em escuro representam
aqueles que não tiveram a Hb Fetal eluída após
tratamento pela técnica de eluição ácida.
Os eritrócitos desprovidos de coloração são
eritrócitos com Hb A, cujas moléculas de hemoglobinas
foram eluídas. Obs.: a dosagem bioquímica de Hb Fetal
deste caso foi de 4,2%. |
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Figura 6.49 – Distribuição
heterogênea de Hb Fetal intraeritrocitária na talassemia
beta maior. 2/3 dos eritrócitos apresentam-se corados devido
à presença de Hb Fetal que não foi eluída
após tratamento com a técnica de eluição
ácida. Obs.: a dosagem bioquímica de Hb Fetal deste
caso foi de 68%. |
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Hb AS - Traço falciforme ou falcemia heterozigota
O traço falciforme caracteriza
o portador assintomático, laboratorialmente representado
pela associação das hemoglobinas A e S, ou Hb AS.
A concentração da Hb S no traço falciforme
é sempre menor que da Hb A, variando entre
30 e 40% (ver tabela 6.1 e figura 6.3 em Introdução).
Eventualmente, quando associado com anemia ferropriva ou talassemia
alfa, a concentração da Hb S pode se situar abaixo
de 30%. Pelo fato da menor concentração da Hb S em
relação à da Hb A, o portador heterozigoto
não padece da doença e não apresenta alterações
hematológicas.
Os processos vaso-oclusivos sob condições
fisiológicas normais inexistem, e, portanto, não há
mortalidade e nem morbidades seletivas. Geralmente detecta-se o
portador de Hb AS em estudos populacionais e pré-natal, ou
em análises de familiares com membros portadores do gene
da Hb S. No Brasil a prevalência média de Hb AS é
próxima de 2,0% na população total, entretanto
se considerarmos somente pessoas de cor negra a prevalência
média é por volta de 5%, com grandes diferenças
regionais. Entre pessoas de cor branca a prevalência média
de Hb AS é variável entre 1,0 e 1,3%, evidenciando
a representativa miscigenação branco-negra da população
brasileira.
Geneticamente a condição heterozigota
se deve à herança do gene da globina b
S por parte de um dos pais, juntamente com gene da globina
b A proveniente do outro.
Em nossa população as formas mais comuns de transmissão
do gene b S para o traço
falciforme se deve aos seguintes genótipos dos pais, por
ordem decrescente de frequência: AS x AA; AS x AS; SS x AA;
SC x AA; S/b Tal x AA.
A deficiência de G-6PD associada à
Hb AS em geral não acrescenta morbidade às já
porventura preexistentes, entretanto foram relatados casos com maior
incidência de hematúria e embolia pulmonar, além
de discreto grau de anemia associada à presença intraeritrocitária
de corpos de Heinz.
A interação entre Hb AS com talassemia
alfa de um ou dois genes afetados pode ser identificada pela presença
de Hb H com concentrações variáveis entre 0,5
a 5%, além das hemoglobinas A2, S e A. Nesses
casos é comum a diminuição da concentração
da Hb S (tabela 6.18). Hematologicamente, os valores hematimétricos
se situam na faixa menor dos valores de normalidade, porém
é comum a presença de discreto grau de aniso-poiquilocitose
no esfregaço sangüíneo. A interação
de Hb AS com a doença de Hb H é uma situação
extremamente rara, que apresenta a concentração da
Hb H variável entre 10 e 20%, a Hb S entre 15 e 20%, e a
Hb A2 visivelmente diminuída. Nesses casos a anemia
é moderada a grave (Hb: 7 a 10 g/dl), com intensas alterações
na morfologia eritrocitária, e precipitados de Hb H facilmente
identificáveis após incubação do sangue
em solução de azul crezil brilhante (figura 6.50).
A tabela 6.18 resume as principais avaliações hematimétricas
na interação entre Hb AS/talassemia alfa.
O diagnóstico laboratorial é feito
por técnicas eletroforéticas em pH alcalino (figura
6.42) e pH ácido (figura 6.43), que associadas permitem a
caracterização dos genótipos de S, e em especial
da Hb AS. Com o uso de gradiente de pH apropriado, a eletroforese
de focalização isoelétrica também identifica
a Hb S em seus diversos genótipos (figura 6.48). Outros testes
que apenas detectam a presença de Hb S, sem identificar o
seu genótipo (AS, SS, SC, etc.), são os testes de
falcização (figura 6.51) e de solubilidade. |
Figura 6.50 – Precipitados de Hb H na
doença de Hb H, após incubação do sangue
total misturado com azul de crezil brilhante a 37ºC / 1 hora.
Na associação da Hb AS com doença de Hb H é
possível obter resultados similares ao desta figura.
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Figura 6.51 – Teste de falcização
positivo em portador de traço falciforme (Hb AS) após
cinco horas de incubação do sangue com metabisulfito
de sódio a 1%. |
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Tabela 6.18
– Relação entre genótipos de talassemia
associados à Hb AS (Hb AS/tal alfa) com as alterações
hematimétricas. |
Genótipo |
Hb (g/dl) |
VCM |
%Hb S |
% Hb H |
AS; a a / a
a |
13 –15 |
77 – 92 |
30 – 40 |
– |
AS; a - / a
a |
11 – 15 |
75 – 85 |
30 – 40 |
0,5 – 1,0 |
AS; a
- / a - |
11 – 13 |
70 – 75 |
20 – 30 |
2,0 – 5,0 |
AS; a - / - - (*) |
7 – 10 |
50 – 60 |
15 – 20 |
10,0 – 20,0 |
(*) Doença de Hb H |
 |
Hb SS - Anemia falciforme
A anemia falciforme é
o estado de homozigose da Hb S representado por Hb SS. Ao contrário
dos portadores do traço falciforme (Hb AS), a história
de pacientes com anemia falciforme revela, quase invariavelmente,
por repetidos episódios dolorosos, geralmente do tipo vasculoclusivo,
com ou sem efeitos mielodepressivos (deficiência temporária
da medula óssea em produzir eritrócitos). Os sinais
e sintomas são especialmente causados por anemia crônica,
períodos de agravamento de anemia, dores nas juntas e nas
extremidades de mãos e pés, dores abdominais, necrose
asséptica da medula óssea, acidentes cerebrovasculares,
infartos pulmonares, entre outros.
Os recém-nascidos com anemia falciforme
geralmente não apresentam os problemas causados por essa
hemoglobinopatia devido à alta concentração
de Hb Fetal presente nos eritrócitos, durante os dois primeiros
meses de vida. Entretanto, a gradual substituição
da Hb Fetal (a 2 g
2 ) pela Hb S (a 2
b 2S), motivada
pela redução genética da síntese de
globinas g ao mesmo tempo em que ocorre
a indução genética da síntese de globinas
b S, faz com que a doença
se expresse a partir do quarto mês de vida.
Os exames laboratoriais indicam anemia grave,
com hemoglobina variável entre 5 e 9 g/dl, que associados
à acentuada queda de hematócrito e contagem de eritrócitos
resultam em índices normocíticos e normocrômicos,
apesar da evidente aniso-poiquilocitose com presença de
células falciformes, conforme mostram as tabelas 6.1 e
6.2. A leucocitose é moderada (12.000 a 17.000/mm3),
freqüentemente com desvio à esquerda com neutrófilos
bastonetes. As plaquetas podem estar discretamente elevadas. O
exame da medula óssea apresenta hiperplasia normoblástica
e áreas de hematopoiese podem ser encontradas em regiões
geralmente ocupadas por tecido adiposo (ou medula amarela). Os
exames bioquímicos do sangue revelam alterações
em vários parâmetros, conforme mostra a tabela 6.19.
|
Tabela 6.19
– Parâmetros bioquímicos em 74 pacientes com anemia
falciforme do Instituto Estadual de Hematologia do Rio de Janeiro
– HEMORIO. |
Parâmetros |
Valores obtidos |
Média |
Ferritina (mg %) |
16,4 – 1000,0 |
223,07 |
Bilirrubina total (mg %) |
0,4 – 8,8 |
2,65 |
Bilirrubina direta (mg %) |
0,1 – 2,6 |
0,62 |
Bilirrubina indireta (mg %) |
0,3 – 8,1 |
2,04 |
AST (UI/L) |
14,0 – 129,0 |
45,37 |
ALT (UI/L) |
6,0 – 85,0 |
25,14 |
Creatinina (mg %) |
0,2 – 1,0 |
0,56 |
AST – Aspartato amino transferase (ou transaminase oxaloacética)
ALT – Alanina amino transferase (ou transaminase pirúvica)
Fonte: Marcos Kneip Fleury, 2000. |
 |
A eletroforese
de hemoglobina apresenta concentrações de Hb S variáveis
entre 90 e 100%, Hb Fetal: 2 a 10%, e Hb A2: 2 a 4%. A
Hb A está sempre ausente em pacientes com anemia falciforme
não transfundidos, conforme mostra a figura
6.52. |
Figura 6.52 - Eletroforese alcalina de hemoglobina
em acetato de celulose. (1) Hb AS; (2) Hb AA; (3) Hb SS com 5% de
Hb Fetal. A seta indica fração de meta Hb S em paciente
com anemia falciforme associada à deficiência de G6PD.
|
 |
A Hb Fetal na anemia falciforme
– Na anemia falciforme a concentração de Hb
Fetal é geralmente variável entre 2 e 10%, mas pode
ser maior que 10%, e em alguns casos pode ultrapassar 40%. Pesquisas
realizadas em pacientes com anemia falciforme dos sexos masculino
e feminino, revelaram que o nível médio e Hb Fetal
é maior entre as mulheres. A concentração de
Hb Fetal é determinada por fatores relacionados e não-relacionados
com o agrupamento de genes da globina beta, fato evidenciado entre
os diferentes haplótipos de Hb S obtidos de estudos realizados
em pessoas com anemia falciforme (ver tabela 6.3). A análise
dessa relação revela que a gravidade clínica
da anemia falciforme é menor quando o nível de Hb
Fetal está mais elevado. A relação entre os
diferentes haplótipos de Hb S com a concentração
de Hb Fetal parece estar relacionada com a persistência hereditária
de Hb Fetal (PHHF) dos genes específicos para síntese
da globina gama. No cromossomo 11 há dois genes gama que
expressam globinas gamas diferentes – um deles com a síntese
de alanina e outro com a síntese de glicina – e por
isso denominados por gene g A
e gene g G (ver figura 6.9).
Nas pequenas concentrações de Hb Fetal presente em
adultos com hemoglobinas normais, a relação g
G / g A, tende
a um valor próximo de 2:3. Nas colônias de células
eritróides obtidas de sangue fetal a Hb Fetal tem maior proporção
de g G, enquanto que em colônias
com maior concentração de Hb A, o predomínio
é de g A. A porcentagem
de células F, ou seja, eritrócitos com Hb Fetal, está
aumentada na anemia falciforme. Estudos realizados com amostras
de sangue de pacientes com anemia falciforme, em comparação
com Hb AA, revelaram que cerca de 55% dos eritrócitos falciformes
continham Hb Fetal, enquanto que em portadores de Hb AA o valor
médio foi de 3%. Foi demonstrado também que fatores
genéticos ligados ao cromossomo X interferem na síntese
de Hb Fetal, fato que explicaria a maior concentração
de Hb Fetal entre as mulheres.
Hb SS / Talassemia alfa (Hb SH)
– A talassemia alfa é uma alteração da
síntese de globina alfa que pode ter origem genética
ou adquirida. A causa hereditária da talassemia alfa está
bem definida e se deve a defeitos no processo de síntese
de globinas alfa, por lesão molecular de um, dois, três
ou quatro genes alfa (ver figuras 4.1 e 4.2 do capítulo Hb
normais). A causa adquirida tem sido relatada em pacientes com doenças
linfo e mieloproliferativas, cuja prevalência de talassemia
alfa chega atingir 60% entre esses doentes. Entretanto, pouco se
sabe de que forma surge a talassemia alfa adquirida – se induzida
por drogas quimioterápicas ou por alterações
genéticas da célula tronco hematopoiética.
Entre pessoas negras, a talassemia alfa resulta
geralmente da deleção de um ou dois genes alfa. A
prevalência de talassemia alfa entre negros da América
do Norte é de 30%, enquanto no Brasil é variável
entre 20 e 25%. Assim, admite-se que a interação entre
a anemia falciforme e talassemia alfa ocorra com alta frequência.
Foi demonstrado em vários estudos descritos na literatura
científica que a talassemia alfa representa um fator modulador
dos parâmetros hematológicos, com elevação
da contagem de eritrócitos e redução dos índices
hematimétricos: VCM (volume corpuscular médio), HCM
(hemoglobina corpuscular média), e CHCM (concentração
de hemoglobina corpuscular média). A redução
do número de moléculas de Hb S no eritrócito
diminui a formação de polímeros das moléculas
de desoxi-HbS, e consequentemente se forma menos eritrócitos
falciformes irreversíveis. Dessa forma, a interação
entre Hb S/talassemia alfa parece ser benéfica à anemia
falciforme pois aumenta a sobrevida do eritrócito falcêmico,
diminui o grau de hemólise, e consequentemente torna a anemia
menos grave, conforme mostra a tabela 6.20. Entretanto, na associação
entre Hb S e doença de Hb H (lesão de três genes
alfa) a anemia se torna grave. Nesses casos a concentração
de Hb H associada à Hb S é variável entre 15
e 25% (figura 6.53).
|
Tabela 6.20
– Parâmetros hematológicos na interação
entre anemia falciforme e talassemia alfa. |
Genótipo |
Tipo de Hb |
Hb g/dl |
VCM |
Reticulócito |
a 2 b
2S / a 2
b 2S |
SS |
5 – 9 |
85 – 110 |
10 – 20 |
-a b
2S / a 2
b 2S |
SH* |
7 – 10 |
80 – 95 |
5 – 10 |
-a b
2S / -a b
2S |
SH** |
9 – 11 |
70 – 80 |
5 – 10 |
-a b
2S / - - b
2S |
SH*** |
5 – 8 |
60 – 70 |
> 20 |
* Lesão de um gene alfa; Hb H: 0,5 a 2% na eletroforese alcalina.
** Lesão de dois genes alfa; Hb H: 2 a 8% na eletroforese alcalina.
*** Lesão de três genes alfa ou Hb S/doença de
Hb H; Hb H: 15 a 25% na eletroforese alcalina.
|
 |
Figura 6.53 - Eletroforese alcalina de hemoglobina
em acetato de celulose. (1): Hb SH obtida de paciente com anemia falciforme
(transfundida, por isso a presença de Hb A) associada a talassemia
alfa (- a b 2S /
- - b 2S), observe
a presença de duas frações de Hb H: uma formada
por tetrâmeros de b A
e outra por tetrâmeros de b S;
a concentração maior da Hb H por b
4A em relação à diminuta
concentração da Hb H por b
4S se deve ao fato deste tetrâmero
ser muito instável. (2): Hb AS. (3): Hb AA. Para visualizar
a Hb H é necessário aplicar hemolisado feito com saponina
a 1%. |
 |
Anemia falciforme e deficiência
de G-6-PD – A coexistência da Hb SS com deficiência
de glicose-6-fosfato desidrogenase (G-6-PD) é um fato presumível
uma vez que a prevalência da deficiência dessa enzima
entre a população negra é por volta de 9 a
15%. Embora a literatura científica se refere de forma genérica
que a associação entre Hb SS/deficiência de
G-6-PD parece não ter influência no número de
eritrócitos falciformes irreversíveis (ou células
densa), ou no nível de concentração da hemoglobina
total, bem como na condição clínica do paciente,
é importante destacar que há, pelo menos, cinco classes
diferentes de deficiência de G-6-PD (tabela 6.21). A classe
1 é muito rara, entretanto as classes 2 e 3 são as
mais importantes sob o ponto de vista clínico, pois causam
crises de hemólises quando o portador é exposto a
drogas oxidantes. No Brasil, a deficiência de G-6-PD mais
comum é a da classe 3, com os tipos africanos
prevalecendo em 87% dos casos descritos, seguida da classe 2 onde
os tipos mediterrâneos atingem 13%.
|
Tabela 6.21
– Classificação da deficiência de G-6-PD
em cinco classes. |
Classes |
Características |
1 |
Variantes deficientes associadas
à anemia hemolítica crônica.Ex.: variante
de G-6-PD New York |
2 |
Variantes com deficiência acentuada da atividade
da enzima G-6-PD, com menos de 10% de atividade normal. Ex.:
variantes mediterrâneas. |
3 |
Variantes com deficiência
moderada da atividade da enzima G-6-PD, com 10 a 60% da atividade
normal. Ex.: variantes africanas. |
4 |
Variantes com deficiência discreta da atividade
da enzima G-6-PD, com 60 a 95% da atividade normal. |
5 |
Variantes com atividade aumentada
da enzima G-6-PD. |
|
 |
Sob
o ponto de vista fisiológico a associação da
Hb SS com deficiência de G-6-PD é desastrosa à
molécula de hemoglobina. A deficiência de G-6-PD é
um fator indutor da desnaturação da hemoglobina, enquanto
que a Hb S apresenta alto grau de oxidação expontânea.
A associação desses dois defeitos num mesmo eritrócito
certamente desencadeia com maior intensidade a desnaturação
oxidativa da Hb S, especialmente se exposto a fatores indutores
como são os casos de drogas e poluentes ambientais oxidativos.
Diante desses fatos ocorre maior consumo das enzimas antioxidantes,
alterando as sínteses e as suas concentrações.
Assim, os mecanismos redutores da oxidação e das lesões
celulares provocadas pelos radicais livres causam a diminuição
das atividades de glutatião peroxidase e catalase, aumenta
o nível de superóxido dismutase (SOD) e diminui a
concentração de vitamina E no plasma e na membrana
eritrocitária.
A avaliação citológica de
corpos de Heinz nos pacientes com anemia falciforme é sempre
um excelente marcador biológico dos processos oxidativos.
Na associação entre Hb SS e deficiência de G-6-PD
a precipitação intraeritrocitária de corpos
de Heinz é muito mais expressiva. Outro indicador da deficiência
de G-6-PD em pacientes com anemia falciforme é a elevada
concentração de metaemoglobina, que pode ser quantificada
bioquimicamente ou visualizada durante o processo eletroforético
da Hb SS – notadamente após 48 horas da coleta do sangue
(figura 6.52).
Investigação laboratorial
– O diagnóstico laboratorial da anemia falciforme inclui
o hemograma completo, as eletroforeses de hemoglobina em tampões
alcalino e ácido, dosagens de Hb Fetal e metaemoglobina,
contagem de reticulócitos e pesquisas intraeritrocitárias
de Hb H e corpos de Heinz. O hemograma é fundamental para
avaliar quantitativamente o grau de anemia, além de fornecer
os índices hematimétricos de VCM e HCM que são
importantes parâmetros para diferenciar os genótipos
da anemia falciforme (SS e SF) e da talassemia beta (SF), conforme
mostram as tabelas 6.1e 6.17. A eletroforese de hemoglobina em pH
alcalino identifica a fração anormal com suspeita
de ser a Hb S, pois nesta mesma região eletroforética
se posiciona a Hb D. Assim, os genótipos SS, SD e DD apresentam
com as mesmas características eletroforéticas, conforme
mostra a figura 5.5 do capítulo 5 - Hemoglobinopatias. Para
identificar cada um desses genótipos é necessário
recorrer à eletroforese de hemoglobinas em gel de agarose
com pH ácido, que separa com excelente resolução
esses genótipos. É importante destacar ainda que a
eletroforese alcalina, quer seja em gel de agarose ou em acetato
de celulose, permite a separação da Hb Fetal e sua
quantificação densitométrica, fato que auxilia
o diagnóstico dos diferentes genótipos das doenças
falciformes. Por outro lado, a eletroforese alcalina em acetato
de celulose é fundamental na identificação
da Hb H e da metaemoglobina (que apresenta cor marrom) quando associadas
à anemia falciforme. A dosagem de Hb Fetal é importante
não apenas para caracterizar o genótipo da doença
falciforme, mas principalmente para o entendimento da evolução
clínica do paciente, onde o maior nível de Hb Fetal
representa melhor prognóstico da doença. Por outro
lado, a dosagem da metaemoglobina indica o grau de oxidação
da Hb S, pois as concentrações elevadas estão
relacionadas com processos fisiopatológicos mais deletérios
ao eritrócito falciforme, bem como podem indicar a associação
da Hb SS com deficiência de G-6-PD; nestes casos se faz necessário
a dosagem enzimática desta enzima. A contagem de reticulócitos
estabelece importantes parâmetros sobre o processo hemolítico
decorrente da anemia falciforme, bem como a resposta da reposição
eritrocitária – ou eritropoiese. A pesquisa intraeritrocitária
de Hb H (figura 6.50) é um excelente método de confirmação
da talassemia alfa. A pesquisa intraeritrocitária de corpos
de Heinz representa importante informação sobre o
desencadeamento de processos oxidativos da Hb S, bem como a suspeita
da associação entre Hb SS e deficiência de G-6-PD.
Finalmente, é sempre importante enfatizar
que para a correta conclusão do diagnóstico laboratorial
da Hb SS ou da Hb SS/Talassemia alfa é necessário
que se faça a análise de hemoglobinas no sangue dos
pais. No caso da Hb SS, os genótipos mais comuns dos pais
são: AS x AS; AS x SS; AS x SC; AS x S/Talassemia Beta. Quando
a Hb SS está associada à talassemia alfa um dos pais
deve apresentar a Hb H, por exemplo: AS x ASH; ASH x SC, etc.
Interação Hb S/Talassemia beta
A interação entre Hb S e talassemia
beta foi descrita pela primeira vez por Ida Bianco e Ezio Silvestroni
em 1954. Esses pesquisadores observaram que alguns dos seus pacientes
apresentavam anemia de graus moderado a grave, com a presença
concomitante de células falciformes e microcíticas,
e por essa razão a anemia foi denominada de micro-drepanocitose.
Eletroforeticamente a interação Hb S/Talassemia
Beta apresenta dois padrões genotípicos, um com
as hemoglobinas SF (Hb SF) e outro com Hb SFA; em ambos os casos
a concentração da Hb S é sempre maior que
as outras hemoglobinas (ver tabela 6.1).
A ocorrência da interação
Hb S/Talassemia Beta em nosso país se deve ao alto grau
de miscigenação entre as etnias que participaram
da formação do povo brasileiro. Embora o gene da
globina b S seja muito prevalente
entre populações do continente africano, outros
povos também apresentam altas prevalências notadamente
na Arábia Saudita, Emirados Árabes, Caribe, sul
da Itália, e em negros das Américas do Norte e do
Sul. Por outro lado, o gene da globina b
anormal que induz a falha na síntese da globina beta –
ou gene b talassêmico –
apresenta expressiva prevalência entre os povos de países
banhados pelo mar Mediterrâneo, com destaques para Itália,
Turquia, Grécia, Chipre, Itália, Líbano e
países do norte da África. Ao longo do tempo ocorreu
a expansão do gene b talassêmico
para Portugal, Espanha, leste europeu e Ásia. No Brasil
a prevalência da Hb S/Talassemia Beta é de um caso
para 25 mil pessoas, e conforme dados obtidos junto à Organização
Mundial da Saúde estima-se que nascem anualmente no Brasil
cerca de 600 crianças com esse genótipo.
A Hb S/Talassemia Beta pode ser diferenciada
laboratorialmente por meio de eletroforeses alcalina e ácida
em dois genótipos: SF e SFA. No genótipo SF há
completa ausência da Hb A, com concentrações
variáveis de Hb A2 entre 2 e 6% (figura 6.54).
|
Figura 6.54 - Eletroforese alcalina de hemoglobinas
em gel de agarose. (1) Hb AA – padrão normal; (2) Hb
AF na talassemia beta maior após transfusão de concentrado
de hemácias; (3) Hb S/Tal. b 0
ou Hb SF com excesso de metaemoglobina S e globinas alfa livres atrás
do local da aplicação; (4) Pai do caso 3 – talassemia
beta menor com Hb A2 e Hb Fetal aumentadas; (5) Mãe
do caso 3 com Hb AS. |
 |
Esse genótipo se deve à total deficiência
de síntese de globina beta normal ou b
A, sendo por isso denominado por talassemia b
0 que associado a Hb S se torna Hb S /Tal.b
0. Na talassemia b
0 há elevada expressão do gene gama que
induz o aumento da síntese da Hb Fetal quando há interação
com a Hb S. A situação mais freqüente de herança
desse genótipo ocorre quando um dos pais é portador
heterozigoto de talassemia beta menor, ou Tal. b
0 heterozigoto, e o outro é portador de Hb AS
(figura 6.55). Pela representação esquemática
dessa figura é possível entender a ausência
eletroforética da Hb A, e as concentrações
elevadas das Hb S e Hb Fetal. Entretanto um fato relevante mostrado
no esquema se refere às globinas alfa "livres"
que por não terem globinas b
A para se combinarem, precipitam nos eritrócitos
e formam corpos de Heinz. Os corpos de Heinz são retirados
por macrófagos do sistema retículo endotelial, causando
lesões nos eritrócitos – principal causa da
formação de micrócitos esquisócitos
e, consequentemente da microcitose. As globinas alfa "livres"
são facilmente identificadas em eletroforese alcalina de
hemoglobina em agarose ou acetato de celulose, que após coloração
com negro de amido são visíveis atrás do ponto
de aplicação das amostras (figura 6.54). Destaque
importante dessa figura se deve à presença de meta
Hb S induzida pelo alto grau de oxidação da Hb S e
também, em parte causada pela oxidação das
globinas alfa "livres". Como já foi exposto anteriormente,
o alto grau de oxidação da hemoglobina inviabiliza
a sua integridade molecular, tornando-a instável estruturalmente
– principal causa da precipitação de globinas
bS sob forma de corpos de Heinz.
|
* - Nesta representação só foram incluídos
os genes do cromossomo 11 (g, d
e b). Os quatro genes alfa não foram
incluídos, admitindo-os com sínteses normais.
Figura 6.55 – Representação esquemática
da herança e das conseqüências fisiopatológicas
da Hb S/Tal. b 0. |
 |
O genótipo SFA se deve à associação
entre a talassemia b + - caso
em que o gene da globina b A
está parcialmente afetado para sintetizar Hb A – e
Hb S, configurando a representação genética
de Hb S/Tal.b +.
Nesse caso a forma mais comum da expressão dessas alterações
se caracteriza pela maior concentração da Hb S em
relação à Hb A (figura 6.56). Eventualmente
a Hb Fetal pode estar elevada. Pelo fato de ocorrer alguma síntese
de Hb A, que pode representar entre 10 e 40% do total da hemoglobina
(ver tabela 6.1), as conseqüências fisiopatológicas
são menores.
|
Figura 6.56 – Eletroforese alcalina de
hemoglobinas em acetato de celulose. Da esquerda para a direita: AF
(talassemia beta maior após transfusão de concentrado
de hemácias); AA (padrão normal); AFC (recém-nascido
com Hb AC e Hb Fetal elevada devido à idade); S>A (Hb S/Tal.
b +, com Hb S mais concentrada
que a Hb A; SS (Anemia falciforme). |
 |
A figura 6.57 apresenta o esquema da herança
e conseqüências fisiopatológicas da Hb S/Tal.
b +. Devido a presença
de Hb A – mesmo que em baixas concentrações
– o nível de globinas alfa livres é nitidamente
inferior em comparação com o caso anterior.
|
* - Nesta representação só foram incluídos
os genes do cromossomo 11 (g, d
e b). Os quatro genes alfa não foram
incluídos, admitindo-os com sínteses normais.
Figura 6.57 – Representação
esquemática da herança e das conseqüências
fisiopatológicas da Hb S/Tal. b
+. |
 |
É fundamental a realização
dos exames eletroforéticos dos pais de portadores de Hb S/Tal.
b, onde um deles deve apresentar Hb S (Hb AS, Hb SC, Hb SS ou Hb
S/Tal. b) e o outro talassemia beta (Tal. b menor, Hb S/Tal. b ou
Hb C/Tal. b). Entretanto os genótipos mais comuns dos pais
são: Hb AS x Hb Ab (Tal. b menor). Essa avaliação
é necessária porque muitas vezes é transfundido
sangue com Hb AA para pessoas com anemia falciforme (Hb SS), e nesses
casos o resultado eletroforético pós-transfusional
é similar ao da Hb S/Tal. b+, com a concentração
da Hb S maior que a Hb A.
Além do hemograma, com destaque para os
índices VCM, HCM e resultados das análises por eletroforeses
alcalina e ácida, é necessário que se faça
a dosagem de Hb Fetal para o correto estabelecimento do diagnóstico
laboratorial da Hb S/Talassemia Beta. A dosagem de metaemoglobina,
contagem de reticulócitos, e pesquisa intraeritrocitária
de corpos de Heinz constituem excelentes parâmetros para avaliar
as conseqüências fisiopatológicas da doença.
Hb SD – Doença da Hb SD
A Hb D é uma hemoglobina
variante com a mesma mobilidade eletroforética da Hb S (figura
5.5 do capítulo 5 - Hemoglobinopatias). Há vários
tipos estruturalmente diferentes de Hb D, conforme mostra a tabela
5.3 do capítulo 5 - Hemoglobinopatias. Desses tipos a Hb
D Los Angeles, também conhecida por D Punjab, é mais
comum em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil,
onde sua prevalência no estado de heterozigose (Hb AD) ocorre
na proporção de um caso para cada 5 mil pessoas analisadas.
Por essa razão não é difícil encontrar
pessoas com a dupla heterozigose entre hemoglobinas S e D (Hb SD)
padecendo de anemia hemolítica crônica, e por isso
identificadas como doença de Hb SD. A anemia é variável
entre moderada e grave, uma vez que a Hb D participa com certa intensidade
do processo de polimerização desencadeado pela desoxi-Hb
S. As tabelas 6.1 e 6.2, mostram características laboratoriais
da Hb SD. Pelo fato da Hb SD ter e mesma mobilidade eletroforética
das Hb SS e Hb DD nas eletroforeses alcalina de hemoglobinas em
gel de agarose e acetato de celulose, a melhor forma de diferencia-las
é por meio da eletroforese ácida em gel de agarose
(figura 5.5, capítulo 5). As concentrações
das frações de Hb S e Hb D são equilibradas,
oscilando cada uma delas entre 45 e 50%. Além do hemograma
e das eletroforeses alcalina e ácida, a contagem de reticulócitos
é fundamental para avaliar o grau de eritropoiese do paciente
com Hb SD.
Hb SC – Doença da Hb SC
O gene da globina b
C é comum na costa oeste da África, com
alta prevalência em Benin, Togo e Gana – regiões
que no período do tráfico de escravos constituíam
as Costas do Ouro e do Marfim, e de onde vieram grande número
de africanos para o Brasil. Assim, a prevalência da Hb AC
na população brasileira oscila entre 0,5 e 1%, e entre
pessoas de cor negra entre 1 e 3%. Há dois tipos de Hb C
descritas na literatura, a Hb C com mutação
no aminoácido n.º 6 da globina beta caracterizada pela
troca de ácido glutâmico por lisina (b
6 Glu ® Lis), e a Hb C Harlem com
dupla mutação (b 6 Glu
® Lis + b
73 Asp ® Asn). A Hb C
Harlem é muito rara em todo o mundo, e também no Brasil,
e por ter dupla mutação, uma das quais similar à
da Hb S, pode causar discreta falcização dos eritrócitos.
Dessa forma, a Hb C (b 6 Glu ®
Lis) é a que tem sido descrita na dupla heterozigose com
a Hb S, causando a doença de Hb SC, com anemia hemolítica
crônica com graus variáveis entre moderado a discreto.
As alterações laboratoriais podem ser avaliadas nas
tabelas 6.1 e 6.2, com destaques para o elevado número de
células em alvo e presença de cristais de Hb C nos
eritrócitos. Devido à clínica da Hb SC, gestantes
portadoras dessa dupla heterozigose devem ter acompanhamento especial
durante o período de gestação. A análise
laboratorial específica é realizada por meio de eletroforese
alcalina de hemoglobinas em gel de agarose ou em acetato de celulose,
com a Hb C separando-se da Hb S e se posicionando junto com a Hb
A2 (figura 6.42). Em eletroforese ácida em gel
de agarose a Hb C também é mais lenta que a Hb S (figura
6.58). Pelo fato da mobilidade da Hb C em eletroforese alcalina
ser similar às da Hb O Arábia (comum no Oriente Médio)
e Hb E (comum no Sudeste Asiático), é importante o
uso da eletroforese ácida em gel de agarose, uma vez que
nessas condições a Hb O Arábia e Hb E apresentam
mobilidade igual à da Hb A, diferenciando-se, portanto, da
Hb C. |
Figura 6.58 – Eletroforese ácida
de hemoglobinas em gel de agarose. (1) Hb AA; (2) Hb AS; (3) Hb ASF
em sangue de recém-nascido; (4) Hb AS; (5) Hb SC com traços
de Hb A proveniente de transfusão de concentrado de hemácias
há mais de dois meses. |
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